Confira entrevista com a grande profissional Lulu Sabongi!
1. Dentre as características de um bailarina profissional, quais aquelas que foram mais difíceis de você aprender?
A profissionalização foi um processo mais natural do que propriamente pensado. Eu diria que foi construído da mesma forma que se fazem as pesquisas de campo, vivendo o dia a dia, e descobrindo o que é necessário dependendo da situação que surge à sua frente. Como no local onde comecei minha carreira era também o meu próprio espaço de trabalho, meu respeito pelo que fazia e o carinho com que desenvolvia tudo, ofereceu sempre um tom adicional ao corriqueiro dia a dia.
Acredito que a direção de uma bailarina profissional deve contar com algumas qualidades e necessidades que nunca deixarão de fazer parte da vida dela, enquanto sua proposta for mesmo séria em relação à dança. Entre elas:
· Disciplina para estudar ainda que sozinha
· Respeito a seus professores, todos, os que lhe empurraram à frente ou aqueles que lhe ensinaram por seus próprios exemplos o que não se deve fazer
· Nunca acreditar que chegou ao ponto final, pois neste momento você já estará estagnada.
· Humildade para sempre ouvir o que seus professores têm a dizer e aproveitar o melhor para si mesma
2. Sobre a técnica e a emoção/interpretação na Dança do Ventre, como você as definiria? E como adquirí-las como bailarina?
Técnica é baseada em prática constante e bem direcionada, e para isso precisamos de aulas e uma boa professora. A emoção e interpretação dependem de nossa capacidade emocional e também de conhecimentos específicos.
Se interpreto uma música que tem um poema cantado, tenho que saber invariavelmente a letra da música e isso me auxiliará muitíssimo na interpretação. Acredito de fato que uma bailarina profissional tenha que aprender o idioma árabe ou então ter alguém que possa traduzir para ela cada uma das canções utilizadas em cena.
3. Você já esteve em muitos países dançando e ensinando, e há muitas diferenças de um país para outro. Fale um pouco sobre algumas destas diferenças que lhe chamou muito a atenção.
Cada país carrega sua própria carga cultural, no corpo das mulheres que procuram pela dança. Na Noruega e Suécia por exemplo as mulheres de forma geral, têm limitações com relação à sua feminilidade e sensualidade, pois acredita-se que a demonstração de força e independência é primordial nestes países, e uma mulher mais feminina soa como se fosse também mais fraca, o que é uma pena e também totalmente falso.
No Japão, a sociedade é altamente competitiva, e as pessoas trabalham em um ritmo eufórico e enlouquecedor, as mulheres encontram na dança a possibilidade de se expandir enquanto seres individuais e acabam criando para si mesmas um universo à parte, onde podem compartilhar com outras um prazer que praticamente não existe fora do ambiente da dança oriental, o companheirismo, a beleza e o culto ao belo, não entram no panorama diário japonês mas no meio da dança oriental, têm seu lugar precioso reservado.
Na Espanha que é muito mais parecida com o Brasil, o charme é mais presente, mas ainda assim com um toque seco europeu se compararmos ao estilo brasileiro.
Na Alemanha, a dificuldade com o delicado impera, já que por tradição a população feminina deste país teve que lutar e enfrentar muitas guerras. Mais uma vez o feminino é representativo de fragilidade e por esta mistura de significados, a dança acaba não tendo o respaldo que deveria. Aquelas que decidem se aventurar por esta área, estão explorando um continente vasto e do qual não têm consciência.
O importante é que em todas as sociedades a dança só agrega valores e enriquece o universo das mulheres que vivem em qualquer parte do mundo.
4. O Brasil é um país onde tem aumentado o número de praticantes e de profissionais da área. O que você acha que falta para este crescimento ser acompanhado de mais qualidade? Ou seja, o que falta no Brasil para a Dança do Ventre estar mais valorizada, mais enriquecida?
Acredito que precisamos ser mais críticas e termos expectativas mais profundas. Buscando por qualidade na execução básica dos movimentos e num aprofundamento sobre a cultura e música árabes, quem sabe um dia poderemos ter o mesmo respeito que um bailarino contemporâneo tem, com suas habilidades motoras e de expressão enquanto corpo dançante?
5. Quais conhecimentos e habilidades são necessários para ser uma boa professora de Dança do Ventre?
· Conhecimento técnico aprofundado para oferecer muitas opções de ensino a suas alunas;
· ser muito boa no que faz, tanto nas apresentações quanto em suas aulas;
· Nunca deixar de estudar;
· Gostar de gente, de verdade , pois é impossível ensinar se você não gosta de estar entre as pessoas;
· Ter orgulho do crescimento alheio, pois isso é seu alicerce como professora.
6. Nestes anos todos que você já é professora, o que você sentiu que é ou foi mais difícil de ensinar às alunas?
Que dentro de cada uma de nós mulheres, vive uma bailarina pronta para explodir de forma exuberante e bela. Basta querer e trabalhar por isso.
7. Em uma entrevista à Luciana Arruda você falou sobre várias bailarinas que você admira. O que precisa ter uma bailarina de Dança do Ventre para te encantar, te emocionar?
Sua roupa não pode ser tão provocante que me tire a concentração de sua dança, seu olhar precisa pertencer a ela mesma, ainda que o compartilhe com o público, seu coração tem que estar presente ao se movimentar, e a música tem que sair do seu corpo como se ele fosse os instrumentos e a voz que eu ouço. Quando vejo alguém assim, não fico apenas impressionada, mas sim profundamente emocionada.
8. Você tem ou já teve disciplina para ensaiar Dança do Ventre? E como era?
Já ensaiei sim muito e sempre faço quando necessário. Quando tenho que trabalhar com Gamal, como será agora novamente em Dezembro, por vezes temos que ensaiar por quatro ou cinco horas seguidas. Eu faço o que for preciso para melhorar e me apresentar bem em cena. O resultado que vem do público não tem preço...
Retirdo do site Central de Dança do Ventre escrito por Mariana Lolato
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