quinta-feira, 30 de maio de 2013

Caminhos da Dança do Ventre por Brysa Mahaila

                             O You Tube e a Memória da Dança do Ventre

Um estudo sobre a preservação memória da

 Dança do Ventre nos vídeos do You Tube.

Brysa Mahaila*
 
 

                  Desde a mais remota época, o homem primitivo já tentava registrar suas memórias através de inscrições rupestres em rochas. Esses registros arqueológicos demonstram a necessidade do ser humano em guardar para as gerações futuras informações sobre o passado. Com o advento da internet, e mais recentemente com o You Tube (criado em fevereiro de 2005), abriu-se mais uma porta para que o homem possa guardar informações de forma a preservar sua história. Considerando a dança do ventre parte do folclore árabe, e essencialmente de transmissão oral, cujos registros são escassos, pode encontrar no You Tube uma importante ferramenta para que a história seja perpetuada.
                 Existe um vasto material sobre a dança do ventre no You Tube, porém para este artigo, foram selecionados os vídeos das bailarinas egípcias das décadas de 1930 até aproximadamente 1960, que compõe a coleção de vídeos VHS “ The Stars of de Egypt”, produzidos pelo músico Hossam Ramzy e, que foram postados no You Tube. Esta coleção de vídeos originalmente produzidos em VHS, ilustra o período que é considerado a época mais importante da história recente da dança do ventre, cujas bailarinas são referência para quem estuda e pesquisa o estilo egípcio, considerado o berço da dança do ventre.
                   De acordo com Halbwachs (2006), a memória é construída pela soma de nossas experiências em relação à percepção de tempo. Desse modo, quando ativamos nossas lembranças, é comum que façamos “visita” a um determinado período que se encontra impregnado de vários elementos (cheiros, sons e outros). Isso nos leva a concluir que a construção da memória é dissociada de uma forma materializada, na medida em que se constitui em um processo subjetivo, passível de interpretações individuais. Porém, junto a essas memórias individuais há uma outra, que é a memória coletiva. Esse autor ainda destaca que os indivíduos se conduzem com a ajuda da memória do grupo, e é necessário entender que essa ajuda não implica na presença atual de um ou vários membros do grupo. Através da preservação da memória, é possível entender melhor a trajetória da dança do ventre, desde os primórdios até nossos dias.
                  De acordo com Cenci (2001), em alguns dos rituais do antigo Egito eram apresentadas danças que utilizavam movimentos ondulatórios e rítmicos de quadril e ventre, constituindo a essência primordial da Dança do Ventre. Sem caráter artístico, o objetivo desses rituais eram preparar as mulheres para a maternidade e para o parto. As atribuições artísticas dessa dança só foram agregadas à mesma após a invasão árabe do território egípcio, misturando as tradições e culturas dos dois povos, segundo Buonaventura (1998). Para compreendermos a trajetória da dança do ventre de rituais egípcios até se tornar uma dança apreciada e praticada na maioria dos países ocidentais, é preciso analisar o fenômeno conhecido por “orientalismo”. O termo “oriental” foi amplamente empregado na Europa para designar “a Ásia ou o Leste, geográfica, moral e culturalmente” Said (1990, p.42). Mais que um adjetivo, “oriental” tinha no século XIX – e ainda o tem – estatuto de signo. Assim, era imediatamente localizado e entendido o que queria dizer um especialista quando falava da personalidade, dos hábitos, do modo de produção dos orientais. Mais ainda, indicava eficientemente aspectos da construção política, moral e cultural européia sobre o  Oriente Médio e Norte da África, fixando um imaginário, como explica Edward Said em seu “Orientalismo” (1990).
                  A literatura, artes plásticas e música tornar-se-iam veículo para diferentes apropriações da cultura oriental. Os pintores da época reforçavam o olhar que a Europa tinha do oriente, construindo a mulher oriental sob sua ótica, erótica e exótica, fonte de prazer para uma sociedade, burguesa e conservadora do século XIX. Assim, foi então, apresentada e a dança do ventre ao Ocidente, algo exótico e sensual. E, mesmo transformada, para atender as expectativas do público ocidental, a dança do ventre foi se popularizando em feiras, como nos Estados Unidos, na feira de Chicago, onde esta dança atraiu um grande número de espectadores. E, não demorou muito para que se tornasse parte do showbussess americano, e se espalhasse pelo mundo todo.
             O percurso da dança do ventre, da sua origem ritualística até chegar os showbussess americano, e se tornar uma dança popular no ocidente, só foi possível, devido à memória coletiva que a manteve viva, mesmo que em transformação por todo esse caminho pelo qual atravessou. Pollak ( 1989) comenta que a grande dificuldade para que trabalha com história e memória é fazer com que uma sociedade ou um indivíduo qualquer desta sociedade, adquira uma compreensão de que o seu presente está conectado ao passado.
                 Analisando no que a dança do ventre se tornou nos dias de hoje, podemos chegar à conclusão que o passado, as influências de outras culturas, novos conhecimento, tecnologia, formas de comportamento, etc., contribuíram para que ela permanecesse viva até hoje. E, isso só foi possível, porque a memória é resultado das vidas vivências e experiências das pessoas que viveram antes de nó, para Polak ( 1989).
                  Uma das referências mais genuínas para quem estuda a dança do ventre é a bailarina Tahheya Karioca[1], que faleceu em 1999, e foi um ícone desta dança nos anos 1930 até 1960, apogeu da dança do ventre no Egito. Juntamente com esta bailarina, outros nomes importantes deste período, são fontes de estudo para profissionais no mundo todo, porém possuem pouco material gravado em vídeo disponível. Até os anos 2000, pouca informação era disponibilizada sobre dança do ventre, somente com a popularização da internet a partir do início dessa década é que os sites e blogs começaram a surgir e as informações foram disponibilizadas. Antes da internet, um dos poucos recursos que existiam para estudo, eram vídeos VHS importados, caros e de difícil acesso.  Entre os vídeos que fizeram mais sucesso, está a coleção “The Stars of Egypt, produzidos pelo músico Egípcio Hossam Ramzy[2] , a partir de recortes de filmes antigos nos quais as bailarinas atuavam em cenas de dança. A coleção original é composta de oito vídeos VHS: Taheyya Karioka vol I e II, Sâmya Gamal vol I e II, Naima Akef vol I e II e dois volumes com bailarinas menos famosas chamado de   “The great unknowon”. Como recortes de filmes antigos, as imagens da coleção não possuem uma boa qualidade e nem nitidez, e certamente iriam se perder com o desgaste do tempo, apagando uma parte importante da história e da memória da dança do ventre. 
           O You Tube[3] foi criado em fevereiro de 2005 por dois ex-funcionários do “eBay” (Steve Chen e Chad Hurley), site norte americano de vendas e leilões. O objetivo dos fundadores do site era possibilitar às pessoas compartilharem seus vídeos de viagens, e não esperavam que o You Tube se tornasse um portal para outras dimensões. Com o surgimento do You Tube, começaram as postagens dos vídeos das “Estrelas do Egito”, e hoje estão disponíveis além dos vídeos da coleção do músico Hossam Ramzy, milhares de outros vídeos, destas e de outras importantes bailarinas.  Atualmente, encontram-se 2.300 resultados para a pesquisa “belly dance Stars of the Egypt 1930-1960” no You Tube.  Estes números que impressionam, são postagens de diferentes fontes vindas de inúmeros lugares, promovendo uma ampliação gigantesca das informações sobre estas bailarinas e muitas outras que não estariam disponíveis sem acesso do You Tube. Quando procurados no You Tube, especificamente por nomes das bailarinas, foram encontrados aproximadamente: 293 vídeos para Taheya Karioka  ;  412 para Naima Akef ; 1180 para Sâmia Gamal , para citar as três “Estrelas do Egito” segundo a coleção do músico Hossam Ramzy .
                   A partir da escolha do vídeo de uma bailarina, é possível chegar até outros vídeos de bailarinas diferentes. Isso ocorre, devido à maneira como foram categorizados na postagem do You Tube. Nesse sentido, o usuário vai tendo acesso a novos vídeos num processo progressivo. Ao “clicar” num dos vídeos da bailarina Sâmia Gamal , por exemplo, encontrou-se treze vídeos de outras bailarinas somente  na primeira página de exibição.         
           Os autores Buguess e Green( 2009) consideram que, como toda ferramenta tecnológica nova, o Tou Tube também é introduzido no diálogo com os principais problemas com que os estudos culturais e midiáticos têm se digladiado por décadas, enfatizando a política da cultura popular e o poder da mídia. Essas são as dúvidas que se encontram codificadas no termo “cultura participativa”.[4]
 
Dança do Ventre e o You Tube: culturas populares
 
         Embora com origens tão distintas, a Dança do Ventre encontra no You Tube uma ferramenta importante para a preservação da sua história.
Esta dança oriental, que resistiu ao tempo, modificou-se para seguir existindo, agregou traços de outras culturas por onde foi sendo inserida, poderia tem uma parte da sua memória apagada ou reduzida pelo tempo. Para a preservação do vasto material de vídeo, registro de uma época importante, o surgimento do You Tube foi essencial para seu armazenamento.
          A identificação da Dança do Ventre ( cuja trajetória sempre esteve ligada a cultura popular) com o You Tube  que trás na sua essência esse mesmo conceito, cria vínculos entre os dois e propicia essa reflexão sobre o armazenamento da memória no You Tube.
          De acordo com Buguess e Green( 2009, pg 30) “um outro modo de ver a “cultura das pessoas” é como uma cultura autenticamente doméstica, parte das duradouras tradições da cultura folclórica, distintas tanto da alta cultura (a Ópera de Paris) como da cultura de massa comercial (Paris Hilton) e outras.”
          Caracterizado desde sua criação como uma ferramenta popular, o You Tube tornou-se um espaço democrático, enquadrando-se nos desejos contemporâneos que visam usar cada vez mais e de forma intensa, os meios digitais para compor o nosso cotidiano e nossa relação com os outros.
            Nesse sentido Halbwachs (2006), afirma que nossa memória se beneficie da dos outros, precisando que haja suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre uma base comum. O You Tube pode se tornar a base onde as lembranças são depositadas e transmitidas através das gerações futuras. Assim, terão acesso a informações que se perderiam pelo desgaste do tempo que incide sobre os meios usualmente armazenadas ( vídeos, papéis, etc).
           O que somos atualmente é resultados de uma cultura e de uma história que se constrói a cada instante. Assim também é a dança oriental egípcia, uma dança híbrida, com traços de uma origem ritualística remota na qual foram adicionados traços folclóricos árabes, influências de outras culturas por onde transitou até ser conhecida aqui no Ocidente por dança do ventre.
            Transmitida inicialmente de forma oral pelas famílias árabes, a fim de preservarem suas raízes, esta dança evoluiu ganhando contornos profissionais, se espalhando como uma modalidade artística apreciada em todo o mundo.
            Todo esse processo de transformação agregou significados a esta tradição árabe, e está presente na memória coletiva de todos que fazem parte deste círculo cultural, bem como na memória individual de cada bailarina de Dança do Ventre.
             Com o avanço tecnológico e o advento da internet, surgiu uma nova ferramenta, o You Tube, e assim tornou-se ainda mais acessível esse universo exótico e encantador da dança oriental. Com o acervo postado no You Tube, sua história, filmes antigos, bailarinas consagradas e novos talentos estão ‘a disposição de todos. Assim, quem pesquisa este mercado tem acesso a informações importantes, e que certamente contribuirão para preservar por muito tempo a memória da Dança do Ventre.

 

Referências

 

-BUONAVENTURA, Wendy. Serpent of the Nile, Women and Dance in the Arab WorldNova Iorque: Interlink Books, 1998.

-BURGESS, Jean e GREEN, Joshua. YouTube e a Revolução Digital : como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. Aleph,  São Paulo, 2009.

-CENCI, Cláudia. A Dança da Libertação. 1. ed. Rio de Janeiro: Vitória Régia, 2001.

-HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, Centauro: 2006.

-POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento e Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.

-SAID, Edward. Orientalismo – O oriente como invenção do Ocidente.Tradução: Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

 

* Brysa Mahaila nome artístico de Cátia Davoglio Ribas, mestranda em Processos e Manifestações Culturais da FEEVALE.





[1]  Revista Shimmie Ampliando Conceitos, março de 2012.


[2] Disponível em : www.hossamramzy.com/thestarsofegypt.


[3] Fonte: G1,2006.

Fonte:  texto publicado originalmente em http://filhasdera.blogspot.com.br

Ensino da dança do ventre para crianças é polêmico e divide opiniões

Nas minhas pesquisas encontrei esta matéria que me deixou bem chatiada... resumiria tudo com a palavra desinformação e a diria ainda  que a maldade está nos olhos de quem vê...reduzir a dança a uma arte sensual e erótica, é renegar todo aspecto cultural, toda a tradição e história que esta carrega...


Só para adultos? A prática da dança do ventre para crianças não é consenso entre especialistas, pais, educadores nem bailarinas profissionais. Em Belo Horizonte, pai de aluna de 8 anos de colégio católico inicia jornada para estabelecer limite mínimo de idade para a prática



'Sempre que alguém me pergunta se criança pode aprender dança do ventre, eu tenho que parar e explicar. Não é uma questão simples, afinal, é uma modalidade que carrega um estigma de ser sensual e isso não é bom para criança' - Briggite Barcha é pesquisadora de danças árabes e conta que sua filha Alice Bacha de Resende, de 9 anos, é praticante há três  (Milene Brenda)
"Sempre que alguém me pergunta se criança pode aprender dança do ventre, eu tenho que parar e explicar. Não é uma questão simples, afinal, é uma modalidade que carrega um estigma de ser sensual e isso não é bom para criança" - Briggite Barcha é pesquisadora de danças árabes e conta que sua filha Alice Bacha de Resende, de 9 anos, é praticante há três
Toda menina sonha em se sentir uma princesa. Enfeites, brilho, maquiagem, roupas coloridas e tecidos esvoaçantes como os usados pelas odaliscas ajudam essas crianças a aproximar fantasia de realidade. Contudo, incentivá-las a experienciar atividades que, para os adultos, tem uma conotação erótica é motivo de polêmica. A dança do ventre para garotas que ainda nem atingiram a adolescência, por exemplo, divide opiniões de pais, dançarinos profissionais, professores e especialistas.

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Em Belo Horizonte, a escolha da modalidade como uma atividade extra-curricular para alunas entre o 2º e 5º ano do ensino fundamental de um colégio da Arquidiocese da capital não agradou. Um pai, em especial, resolveu oficializar sua revolta e iniciou uma jornada para estabelecer um limite de idade para o ensino da dança, que aos olhos dele é um incentivo à “erotização precoce”.

Vista como uma forma de arte pelos profissionais e adeptos, a dança do ventre tem uma conotação diferente nos países em que ela é uma tradição cultural. No Brasil, a visão é focada na sensualidade. “O brasileiro é quem enxerga sensualidade em tudo que vê. Nos países árabes é cultural. Em nenhum dos meus estudos sobre a dança do ventre ouvi a palavra sexual ou sensual associada à ela, a não ser no Brasil”, destaca a bailarina profissional e organizadora do Congresso Mineiro de Dança do Ventre, Letícia Soares.

Polêmicas à parte, a dança do ventre deve ser lembrada como uma atividade que traz vários benefícios à saúde. “No plano emocional e terapêutico, a criança desenvolve a coordenação motora e a consciência corporal, tomando posse do corpo e do espaço a redor; adquire confiança e maturidade, desenvolvendo habilidade e facilidade em se sociabilizar; boa postura e habilidade corporal; compreensão da relação entre música, ritmo e movimento; aprende a manifestar seus sentimentos, liberar as emoções reprimidas e desbloquear seus medos; desenvolve a autoestima e a confiança assim como a sensibilidade criativa e previne as depressões”, explica a pesquisadora de danças árabes, Brigitte Bacha. Há 25 anos, ela é professora de dança do ventre e conta que sua filha Alice Bacha de Resende, de 9 anos, é praticante há três.

Acusação
O pai e psicólogo Sanzio Barreto mantém sua queixa sobre a oferta da aula de dança do ventre para crianças. “A gente já é obrigado a sustentar uma carga de pornografia e outros conteúdos sexuais veiculados na mídia e quando confia seu filho a uma escola católica você ainda tem que lidar com isso. Meu problema não é contra a dança do ventre em si, só acho que é muito cedo”, justifica.
O psicologo Sânzio Barreto e a filha Luiza. Pai desaprova oferta de aulas de dança do ventre para crianças de 8 anos (Arquivo Pessoal)
O psicologo Sânzio Barreto e a filha Luiza. Pai desaprova oferta de aulas de dança do ventre para crianças de 8 anos
Pai de uma menina de 8 anos, Barreto diz que se surpreendeu ao ouvir no sistema de som da escola em que a filha estuda a chamada para as aulas de dança do ventre. Para ele, a atividade pode, além de oferecer incentivo à sensualidade antes da hora, colocar as meninas em uma posição de vulnerabilidade e risco de exploração sexual. “Meu objetivo é procurar, na Justiça, a suspensão liminar das aulas enquanto se debate o mérito da questão. Não só nela, mas em outras escolas que também tenham essas aulas”.

Doutora e professora de psicanálise da criança do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cassandra Pereira França diz que a reclamação é pertinente. Segundo ela, as causas de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são sociais e múltiplas, mas a erotização do corpo é uma delas. Ela ressalva, porém que tudo o que a criança vê na televisão e vivencia na sociedade leva a isso. Como exemplo, cita a época da música Na boquinha da garrafa, da Cia do Pagode. “Todas as crianças dançavam aquilo e não entendiam o conteúdo sexual da dança. O samba também é extremamente sensual e temos crianças em todas as escolas do Rio”, diz.
'No caso delas, a dança só acrescentou coisas boas e, além disso, acho muito bonitinho%u201D, afirma Iara Gurgel, mãe de Vitória, de 9 anos, e Luíza, de 8, que fazem a aula extra-curricular no colégio Santa Maria (Arquivo Pessoal)
"No caso delas, a dança só acrescentou coisas boas e, além disso, acho muito bonitinho%u201D, afirma Iara Gurgel, mãe de Vitória, de 9 anos, e Luíza, de 8, que fazem a aula extra-curricular no colégio Santa Maria
O efeito, porém, a especialista diz que só será visto no futuro. “É um debate válido que se dá em dois níveis, o do adulto e o da criança. Eu acho complicado é como os adultos vão ver essa dança porque não dá para saber se a criança vai associar a prática à erotização do próprio corpo”, emenda Cassandra. Ela salienta que o ponto a ser ponderado é o fato de não ser uma modalidade que faça parte da cultura do brasileiro, que, para ela, tem uma visão que se restringe à erotização do corpo feminino. “É preciso divulgar outras funções, outros significados, outros sentidos da dança do ventre”, suegere.

A Vara da Infância e Juventude de Belo Horizonte confirmou ter recebido a denúncia sobre as aulas, mas não comentou sobre o caso. Por meio da assessoria de imprensa, o promotor Celso Pena disse que só irá se pronunciar após se inteirar sobre o assunto.

Professora aposentada do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação da UFMG, Priscila Augusta de Lima reforça que, de forma geral, as crianças brasileiras já estão expostas precocemente a esses temas. “Já temos danças que estimulam questões sexuais dentro da nossa própria cultura. Cabe aos pais avaliarem junto à escola os benefícios da dança do ventre”, afirma. Ela observa, entretanto, que na Argentina meninos e meninas começam a fazer aula de tango bem pequenos. “A dança também é considerada sensual”, diz.

A especialista explica que a criança de 8 anos não está voltada para o sensual. “Dos 6 aos 12 anos é a fase operacional do pensamento ou período operatório concreto. É quando começam a entender a ordenação das coisas, a classificação das coisas. Elas estão descobrindo o pensamento: faz uma conta, encontra o resultado e acha o máximo aquilo. É um período fundamental de aprendizado escolar”, resume. Priscila pontua que isso não significa que a criança não possa aprender outras coisas como dança ou esporte. “Só se o estímulo for excessivo é que pode prejudicar essa fase”, alerta.
A bailarina e organizadora do Congresso Mineiro de Dança do Ventre, Letícia Soares, apoia o ensino da prática para mulheres de qualquer idade (Divulgação / Leticia Soares)
A bailarina e organizadora do Congresso Mineiro de Dança do Ventre, Letícia Soares, apoia o ensino da prática para mulheres de qualquer idade
Depoimentos
A dentista Iara Gurgel Barbosa, de 50 anos, tem duas filhas com menos de 10 anos matriculadas na aula oferecida pelo Colégio Santa Maria e é uma defensora da prática para as meninas. Ela conta que nunca se preocupou com a possibilidade de as coreografias incitarem a sexualidade ou mesmo promoverem a erotização do corpo infantil. “É uma dança sensual sim, mas não vejo nenhum tipo de maldade na idade delas. Aliás, acho que não atrapalhe nada, agora e nem depois. No caso delas, a dança só acrescentou coisas boas e, além disso, acho muito bonitinho”, afirma. “A aula não tem o rebolado que as profissionais fazem. É muito lúdica”, completa.

As filhas Vitória, de 9 anos, e Luíza, de 8, são adeptas desde janeiro e, segundo a mãe, já apresentam muitas melhorias dentro e fora do ambiente escolar. “A dança melhorou a coordenação motora, aumentou a desinibição e a autoestima delas. Elas são gordinhas e, por causa da aula, querem emagrecer, a menor até já perdeu peso. Achei também que elas ficaram mais motivadas com os estudos”, conta.

A diretora da unidade Nova Suíça do Colégio Santa Maria, onde as meninas estudam, defende que os movimentos ensinados nas aulas respeitam a idade das alunas, sem trazer um incentivo extra à sexualidade. “De maneira lúdica, a aula reforça ritmo, a musicalidade e a expressão criativa, por meio de movimentos adequados. Além disso, procuramos entender e conhecer outras culturas, respeitá-las”, afirma Juliana de Carvalho Moreira.

No entanto, a diretora diz entender, com ponderações, a reclamação do pai. “Acredito que realmente, tendo em vista o que é colocado pela mídia sobre as danças orientais, pode ser que alguém pense algo ruim a esse respeito, mas acredito que as famílias de alunos do colégio entendem, uma vez que a aula não é obrigatória e elas escolhem matricular ou não seus filhos nela”.

De fato, a reclamação de Barreto foi a primeira registrada contra a dança desde 2008, quando a atividade começou a ser oferecidas na escola. Para ele, contudo, isso não significa que o apoio à oferta seja total. “Eu tenho conversado aos poucos com outros pais e alguns realmente acham que é uma questão grave, só que preferem não se manifestar”.
A bailarina Rhamza Alli ensina a dança do ventre há 27 anos e defende que a modalidade não é apropriada para crianças (Divulgação / Rhamza Alli)
A bailarina Rhamza Alli ensina a dança do ventre há 27 anos e defende que a modalidade não é apropriada para crianças
Controvérsias 
Entre as dançarinas profissionais também não há consenso sobre o ensino da dança do ventre para crianças. Neta de sírios e professora de dança do ventre há 27 anos, a bailarina paulista Rhamza Alli, de 47 anos, é uma das que acredita que a modalidade não é apropriada na infância.

A tradição milenar, na opinião dela, é designada para mulheres, não meninas. “Na cultura árabe, assim que a menina menstrua ela é retirada do mundo infantil e colocada dentro do mundo da mulher. Só aí ela pode aprender a dança, que tradicionalmente era ensinada para mulheres na fase adulta da vida. Tanto é que os movimentos foram desenvolvidos originalmente para ajudar a sanar problemas femininos, como cólicas e dores do parto. Hoje, é claro, ela é elaborada com um cunho mais artístico”, ressalta.

Alli ainda compartilha dos argumentos do psicólogo mineiro e ressalta que, atualmente, a dança do ventre está “extremamente sensualizada”. “No entanto, existe demanda mercadológica fascinante para as aulas infantis”, completa.
“Sempre que alguém me pergunta se criança pode aprender dança do ventre, eu tenho que parar e explicar. Não é uma questão simples, afinal, é uma modalidade que carrega um estigma de ser sensual e isso não é bom para criança”, afirma Brigitte Barcha.

“Na minha infância no Líbano, essa dança foi ensinada para mim pelas minhas tias, isso fazia parte do nosso cotidiano, não havia maldade nem conotação sexual, era uma forma de nos divertir e brincar”, observa ainda a dona do Studio Brigitte Barcha que existe há 16 anos e é referência em Belo Horizonte. A professora ressalta que a dança do ventre infantil precisa ser tratada como uma atividade física lúdica. “Ensinar para crianças não é uma função fácil, nem é para qualquer um”, confronta.

Segundo ela, é imprescindível que a professora tenha uma formação sólida, conheça bem o universo infantil e as necessidades das crianças. “O conhecimento deve ir além da dança. É preciso ter noções de pedagogia e, o mais importante, ter consciência plena do limite onde se pode trabalhar um corpo que ainda está em formação. Ter pulso e estabelecer limites, mas ao mesmo tempo, com muita ternura e carinho. E não é nada fácil encontrar tudo isso numa mesma pessoa”, diz.

Barcha afirma ainda que uma das primeiras necessidades é que a aula seja dada apenas para crianças e nunca misturar com adultos.
Sabah Najm é dançarina profissional e lecionou dança do ventre por 18 anos. Ela conta que foi difícil vencer a barreira de ensinar para as crianças, mas acabou desenvolvendo um projeto com meninas com síndrome de down e muito bem avaliado (Arquivo Pessoal)
Sabah Najm é dançarina profissional e lecionou dança do ventre por 18 anos. Ela conta que foi difícil vencer a barreira de ensinar para as crianças, mas acabou desenvolvendo um projeto com meninas com síndrome de down e muito bem avaliado
Dança do ventre e síndrome de down
Sabah Najm é dançarina e foi professora do dança do ventre por 18 anos. Entre as experiências mais marcantes da trajetória está um projeto que desenvolveu com meninas com síndrome de down. “Demorei alguns anos para vencer o receio de ministrar aulas para crianças. Também já fui contra. Esse pai está certo, não conhece a professora, não viu a aula, não sabe quem está direcionando. Realmente é preciso tomar cuidado”, diz.

As aulas eram gratuitas e Sabah conta que foi muito procurada e recebia inúmeros pedidos para aumentar a oferta de vagas. O programa começou em 1997 e foi até 2008, quando a professora se aposentou. “Uma aluna minha que dá continuidade à ideia”, fala.

“Foi um tiro no escuro. Minha proposta era proporcionar diversão e alegria e as crianças que foram me dando respostas positivas. No primeiro ano, não coloquei a turma no Festival Anual por medo do que as pessoas iriam pensar. No segundo, elas se apresentaram e foram aplaudidas de pé. Consegui quebrar o tabu da sensualidade, ninguém teve esse pensamento e dei muitas entrevistas sobre essa iniciativa”, lembra.

“Qualquer dança faz muito bem e ouvi de muitas mães que a prática da dança do ventre ajudou as meninas no aprendizado de outras coisas. Elas também apresentaram melhoras no controle motor e na concentração”, enumera.

A dançarina profissional diz que a modalidade encanta o universo infantil por causa da vestimenta alegre, colorida, dos brincos e das pulseiras que chamam muito a atenção das pequenas.


                                                                               Fonte: Gabriella Pacheco - Saúde Plena
                                                                                          Valéria Mendes - Saúde Plena                                                                              Publicação:23/05/2013 08:30Atualização:23/05/2013 13:08

Dança do Ventre é aliada no tratamento do câncer de mama!!!


Aulas são oferecidas para pacientes do Hospital das Clínicas de Botucatu. 
Dança, por ser muito feminina, ajuda na recuperação da autoestima.

A dança do ventre é a mais nova aliada do tratamento do câncer de mama realizado na Unesp de Botucatu (SP). Por ser essencialmente feminino, esse estilo trabalha com o corpo da mulher como um todo e o foco da doença acaba ficando em segundo plano.
De acordo com os especialistas, esse "desvio" de olhar tem aumentado a autoestima das pacientes e refletido diretamente na imunidade delas. Maria Aparecida de Jesus fazem parte da primeira turma de dança. Ela tem só 27 anos e teve que enfrentar a doença com quimioterapia, mesmo assim, perdeu a mama direita. Com ela foi embora também a autoestima. “Quando eu sai da cirurgia eu só olhava para minha mama, queria saber dela e só chorava o dia todo. Só pensava na reconstrução da mama”, conta a aluna.
Dança do ventre é oferecida para as pacientes do HC (Foto: reprodução/TV Tem)Dança do ventre é oferecida para as pacientes do
HC (Foto: reprodução/TV Tem)
E literalmente ela não conseguia se enxergar. Depressiva, Maria chegou a tirar todos os espelhos de casa, mas na sala de aula não teve jeito. Precisou se olhar novamente.
“Quando eu cheguei na aula vi um baita de um espelho e pensei ‘Meu Deus’ e pensei ‘vou ter que me encarar de frente’ e foi muito difícil”, completa.

“Eu vim de curiosa e pensei que num ia dar certo e logo no primeiro dia, a professora já me colocou para dançar e foi contagiante. É uma dança lenta no início e com passar do tempo vai aumentando o ritmo, eu fui percebendo que conseguia fazer, acho que isso que estimulou.”
Maria Emília Pereira também teve o câncer, mas não teve que tirar toda a mama. Apenas a parte afetada pela doença foi retirada. Mesmo assim, a depressão é inevitável. Na dança do ventre ela encontrou uma forma de se achar bonita outra vez.
Nas aulas, as participantes aprendem a se olhar novamente no espelho  (Foto: reprodução/TV Tem)Nas aulas, as participantes aprendem a se olhar novamente no espelho (Foto: reprodução/TV Tem)
O projeto faz parte de uma pesquisa desenvolvida por profissionais da Unesp, em parceria com a Famesp, fundação médica que apoia os serviços de saúde. A educadora física Sônia Regina Augusto teve contato com um projeto parecido na capital e foi aí que resolveu trazer as aulas para as pacientes do Hospital das Clínicas de Botucatu. Um dos objetivos é fazer a mulher lembrar, que além da mama, tem o resto do corpo.
“A dança do ventre é uma dança feminina e por ser uma dança que trabalha a divisão do corpo, as mulheres precisam se tocar, conhecer cada uma das partes do corpo, dessa forma a atenção delas se volta para outras partes e não fica só focada na mama”, explica.
Maria Emília precisou tirar parte da mama após o câncer (Foto: reprodução/TV Tem)Maria Emília precisou tirar parte da mama após o
câncer (Foto: reprodução/TV Tem)
Antes de começar as aulas, as alunas precisam passar por uma avaliação. Algumas delas apresentam limitação no movimento dos braços, por causa da cirurgia. É aí que entra outra terapia complementar, que é a fisioterapia. “Quando é feita a mastectomia total, são afetados alguns músculos peitorais e elas ficam com a limitação de movimentos e sentem dor. Com a fisioterapia, que deve ser iniciada após a cirurgia, é possível recuperar os movimentos e a qualidade de vida diária das pacientes”, destaca a fisioterapeuta Samira Luvizutto Rosalem.
Para o médico responsável pelo setor que trata o câncer de mama no Hospital das Clínicas, a terapia da dança não ajuda só na autoestima, mas, o tratamento da paciente também melhora. “O tratamento não pode levar só em conta o câncer, tem que ser avaliada a parte psicológica, que estando bem ajuda no aumento da imunidade e em uma melhor maneira de se combater esse câncer que ela está enfrentando”, ressalta o mastologista José Ricardo Gonçalves.
Maria Aparecida confirma esse bem-estar. “Quando eu chego em casa triste, com vontade de chorar, eu coloco o CD da aula e é como se passasse a dor, tudo fica melhor, sai aquele estresse, a raiva, eu começo a danças e esqueço tudo”, finaliza.
Fisioterapia ajuda na recuperação dos movimentos que fazem parte da dança (Foto: reprodução/TV Tem)Fisioterapia ajuda na recuperação dos movimentos que fazem parte da dança (Foto: reprodução/TV Tem)












                                                                                                                                       Fonte:G1