sábado, 7 de janeiro de 2012

Raks Masri – A dança do ventre no Egito


Não sabemos ao certo nem quando, nem onde surgiu a dança do ventre que temos hoje.
Um estudo de Wendy Bonaventura em seu livro “A serpente do Nilo” supõe que sacerdotisas chamadas Almeés (al-Maat = da Deusa Maat), realizavam rituais a algumas das Deusas Egípcias (Maat, Ísis e Hator) com danças pélvicas. Como mostram os afrescos dos antigos templos destas Deusas, havia mulheres, de túnicas transparentes ou longas saias e seios desnudos, com cabelos enfeitados e largos colares, em posições sacerdotais. Estas informações são baseadas em afrescos e pinturas antigas, nada se tem escrito. Com a entrada da crença patriarcal monoteísta, muito destes materiais foram perdidos ou destruídos.
Um outro tipo de dançarina encontrado no Egito era as gawazzys. Estas sim, foram descritas, inclusive seu modo de dançar, por Napoleão Bonaparte e seus escritores, no ano de 1.790, quando da sua invasão no Egito (vide descrição em danças folclóricas – povos gawazzy).
Como as gawazzys distraíam os soldados de Napoleão (que estavam cansados nas batalhas, pois ficavam a noite toda bebendo, fumando arguile e assistindo dança nas praças e cabarés) , Napoleão então proíbe dança e até manda matar algumas das gawazzys.
A pedido do povo egípcio, ele libera a dança, porém somente pode ser assistida nos al kahwa (casa de café), onde só homens egípcios poderiam freqüentar. Jogavam carta, fumavam arguile e tomavam chá e café (bebida alcoólica era proibida pelo islamismo). Trabalhavam também no al kahwa músicos, contadores de histórias, e todos recebiam salário e nokta (oferendas e dinheiro jogados aos artistas durante o show).
Além dos al kahwa, havia também os malha, lugares parecidos com os al kahwa, porém para turistas.
Em 1.798, Napoleão construiu o Teatro Café Conserto, até hoje existente no Egito, reformado no começo do século passado. Neste grande teatro, se apresentavam dançarinas e músicos, todos com seu salário e o nokta.
Com o tempo, bailarinas e músicos perceberam que o nokta era maior que seu salário. Os músicos começaram a cantar letras mais ousadas e engraçadas e bailarinas começaram a descobrir a barriga e diminuir seu figurino, na intenção de mostrar mais o corpo e ganhar mais nokta. Vendo a desvirtualização da dança e da música, os próprios egípcios fecharam os malha. Os al kahwa e o Teatro Café Conserto ficaram abertos, mas os shows de música e dança foram proibidos.
Em 1.880, surge o movimento La Nahda, o resgate às tradições árabes e seus valores, sem influência do ocidente. Em 1.887, reabrem novamente os cafés para apresentações de dança e música, chamados kahwa al raks, al balady.
Vieram bailarinas da Pérsia, do Marrocos, da Síria e da Tunísia. Houve, então, um mescla cultural na dança. O Egito, desde então, ganha um estilo muito peculiar, e a Raks Sharki, (dança do leste, nome da dança do ventre nos países árabes) ganha o nome de Raks Masri, para designar a dança do ventre feita no Egito.

Fonte: Aisha Almmé
Dança do Punhal

Assim como a dança da espada, a verdadeira origem da dança com o punhal não tem comprovação histórica e há diversas versões sobre o significado dessa dança. É praticamente impossível uma afirmação precisa sobre sua real origem. Em algumas fontes de pesquisa, há afirmações de que seria uma dança derivada da dança da espada. Porém, a dança do punhal é uma dança muito forte e marcante, diferente da dança com a espada, em minha opinião. Uma das versões conta que é uma homenagem a Deusa Selkis (Rainha dos Escorpiões), simbolizando morte, transformação e sexo. É possível que seja uma incorporação da dança cigana à dança do ventre, retratando amor, mistério, magia, paixão, luta e morte. Alguns estudos realmente nos levam a crer que o povo cigano foi pioneiro na inserção do punhal em danças femininas. As gawazees (tribo cigana) utilizavam o punhal como arma de defesa e na execução da dança, elas o usavam para transmitirem mensagens umas para as outras. Os registros mais antigos nos levam a Istambul e Constantinopla, mais precisamente às mulheres que serviam o sultão. Algumas fontes afirmam que as odaliscas precisavam sobreviver no harém. Dessa forma, disputavam com as outras a atenção do sultão, tomando seu punhal e dançando com ele para impressioná-lo. O sultão escolhia apenas uma odalisca para passar a noite com ele, podendo futuramente tornar-se uma de suas esposas ou concubinas. O posto mais alto dentro de um harém atingido por uma mulher era sultana, ou seja, mãe do sultão. Nos haréns, a comunicação entre homens e mulheres era proibida. As mulheres usavam a dança com o punhal como código de linguagem. Hoje em dia, utilizo esses gestuais (códigos) nas mostras de dança para que o público conheça um pouco mais sobre esse estilo de dança. Seguem os significados dos gestuais:
Punhal na mão, com a ponta voltada para fora: a bailarina está livre;
Punhal na mão, com a ponta voltada para dentro: a bailarina é comprometida;
Punhal na testa com a ponta para baixo: magia;
Punhal entre os dentes: desafio (a mulher mostra nada temer);
Punhal coma ponta no quadril: força feminina;
Bater o punhal na bainha: chamado para o embate;
Punhal entre os seios: paixão;
Passar o punhal pelo corpo: sedução;
Equilibrar o punhal sobre a testa: domínio;
Desenhar círculos no ar com o punhal: limpeza energética astral;
Passar a lâmina rente ao próprio pescoço: ameaça de morte.

Dicas:
Por ser uma dança forte, cuidado com o manuseio do punhal para que você não seja mal interpretada;
Decore seu punhal com pedras, fica bem delicado;
Estilos musicais idéias para essa dança: músicas turcas ou estilo andaluz;
Trajes sugeridos: calças bufantes e boleros.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Balady








Ao pé da letra, dança balady significa “do meu país, popular”. É uma dança folclórica egípcia.
Toda dança balady é improvisada. Homens e mulheres podem usar bastão, porém os movimentos deste são mais arredondados e suaves, diferentemente da dança saaid, onde os movimentos são mais marcados. Os homens também podem dançar com lenço no quadril, imitando a mulher, como uma brincadeira.
Vestimentas: As mulheres dançam de galabia geralmente reta, lenço no quadril. Os homens dançam com galabias de mangas retas, um pequeno chapéu sem turbante e um sapato aberto atrás.
Dizem que o povo balady é honesto, justo e hospitaleiro.
Segundo Hossam Ramzy, o quadril das baladys se assemelham ao mel (denso e muito flexível). Por isso, nesta dança, os quadris prevalecem. A balady começa tranqüila, quase tímida, e aos poucos vai se soltando.
A estrutura da música balady antiga (também chamada de taqsim-tabla) é a seguinte:
1.parte: um taqsim de acordeon, flauta ou outro instrumento melodioso.
2.parte: uma pergunta e resposta do instrumento melodioso e da tabla.
3.parte: ritmo maqsoum, parte cadenciada da música
4.parte: quebra de ritmos: tabla e instrumento melodioso
5.parte: malfuf ou falahi: ritmo acelerado da música
6.parte(pode ou não ter): solo de percussão.
Hoje, as músicas baladys são alegres, e induzem a bailarina a executar uma dança festiva, cheia de gestuais próprios


Fonte aisha Almmé

Soumboti


Um tipo de dança gawazzy. É da região de soumboti (Delta do Nilo-Baixo Egito). Segundo Soraia Zaied, bailarina brasileira de renome no Egito,ela é a “mãe” da dança do ventre, sendo a primeira versão desta, a base da dança que conhecemos hoje.
A dança é muito despreocupada com técnica: quadris muito soltos, pernas mais afastadas, joelhos flexionados, braços muito soltos, e a dançarina quase sempre toca os snujs. O pé sempre tem movimentos de “pipocar” alternado. O quadril é o centro deste tipo de dança, com muitos breaks, encaixes e desencaixes, batidas, shimis, etc.
A roupa tradicional é uma galabia muito simples, com pouco bordado.
As músicas são folclóricos, também chamadas de soumboti, no ritmo masmoudi (tocado bem mais rápido), falahi ou malfuf tocado rápido.

fonte aisha Almmé

Dança Árabe-Andaluz



Desde o século 07 a cultural árabe floresceu na Espanha. Muitas pessoas diferentes cruzaram o mar do Norte da África rumo a Espanha, muitas vezes escapando de invasões em seus países. Na maioria, eram grupos de Berberes, que também se assentaram na Sardenha, Ilhas Canárias e na Sicília. O termo berbere significa amazigh = povo livre, sempre aberto a novas idéias e religiões.
A música andaluza foi sofreu grande influência persa. Nesta época,, o califa Harun el Rachid fez de Bagdá, de influência predominantemente persa, um centro de cultura árabe. Havia lá um músico muito talentoso chamado Zyriab. Seu talento despertou o ciúme de alguns de seus professores, que, para se garantirem como melhores músicos da cidade, mandou Zyriab para a Andaluzia.
Lá, Zyriab ajudou na formação de escolas de música em Granada, Sevilha, Córdoba e Valência. Assim, os músicos se influenciaram mutuamente, e aos poucos, árabes e espanhóis criaram um novo estilo de música. Acredita-se que alguns instrumentos utilizados na música espanhola tenham sua origem em Bagdá e no Norte da África.
No ano de 750 aproximadamente, +/- na mesma época de Zyriab, vários músicos e dançarinos foram expulsos de países árabes, devido ao Islamismo, que considerava a música e dança como entretenimento nocivas às virtudes. “Música diminui a modéstia, aumenta a luxúria e solapa a virilidade. Faz o que as bebidas fortes fazem”, diziam os califas em vários países árabes. E mais se misturou a música árabe à espanhola.
Além da influência persa, berbere e árabe, a música andaluza sofreu também uma pequena influência chinesa, devido ao comércio feito na antiguidade na “rota da seda”.
A dança árabe andaluza é uma dança de corte. Contém movimentos delicados e complexos das mãos. Originariamente praticadas por dançarinas levadas dos países árabes e por escravas que eram educadas para cantar, dançar e tocar instrumentos.
Hoje em dia, tornou-se a dança das cidades antigas, praticadas por mulheres que descendem das antigas famílias. A roupa utilizada chama-se algieres karakus, um vestido de veludo lindamente bordado e uma calça chamada serval. As mulheres dançam juntas e usam lenços para enfatizar os movimentos das mãos.
Obs.: Leia o livro “Leon-O Africano” de Amin Malouf
Texto cedido por Christina Schafer, retirado do seminário feito por Amel Tafsout (dançarina argeliana) na ocasião do MAJMA-2000, conferência sobre danças do Oriente Médio e do Norte da África.
A poesia também integra a dança árabe-andaluz. O mais conhecido estilo musical para esta dança é o muachah, um estilo típico andaluz de poesia cantada, criado no século oito pelos árabes, com rima e métricas poéticas um pouco mais livres que as formas que a antecederam (qasida) e se destaca pela habilidade do poeta na escolha das palavras. "É semelhante à lapidação de um diamante", disse certa vez o produtor musical Ali El-Khatib. “O tema é o amor, quase sempre protagonizado por uma vítima apaixonada” .


Fonte: Aisha Almmé